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Pausa para a leitura: Elisabeth

“Mamãe, o que você está fazendo?” - Estou escrevendo.


“Mamãe, o que você está fazendo?”

- Estou escrevendo.

“Que legal, mamãe!!!”

Ela fala mamãe em todas as frases dirigidas a mim.

“Mamãe, você é escritora?”

...Milésimos de segundos de hesitação. Porque ela costuma emendar uma pergunta na outra e a minha enxaqueca parece extirpar qualquer lampejo possível de inspiração para redigir um conto completamente descritivo para um curso que inventei de fazer. Então eu lembro da máxima que rege a forma que julgo apropriada para conduzir a educação dos meus filhos: Não esconda nada das crianças. E aqueles olhinhos de jaboticabas brilhantes, vivos e ávidos de curiosidade e amor, estão fixados em mim. E eu titubeio diante da pergunta que sei responder desde a idade dela. Mas é uma frase que está reprimida, escondida, encarcerada dentro do meu ser. Uma frase que eu nunca falei em voz alta. Aquilo que me coloca numa prateleira junto aos heróis da minha trajetória, meus mestres nas horas incertas, meus companheiros das questões existenciais e da insônia em tantas noites sem fim. Minha vocação secreta. Eu me sinto envergonhada, envaidecida, pretensiosa e orgulhosa em dividir um ofício com aqueles que preenchem meus espaços e foram leais companheiros ao longo da minha história. Aquilo que me expande, meu passaporte para um lugar que preciso ir e voltar. A epígrafe da minha lápide na Eternidade – que é onde os Imortais repousam. Eu tiro meus óculos, pouso meus olhos sobre ela e o astigmatismo ou uma lágrima deixam minha menina levemente embaralhada.

- A mamãe é escritora.

Falei. Senti um alívio em abrir, finalmente, as asas imensas e coloridas que estavam pesadas em minhas costas há tantos anos.

“Posso ler alguma coisa que você escreveu, mamãe?”

- Vem, Elisabeth. Sente aqui no meu colo.

E eu pego um arquivo qualquer de algo que fiz. Ela fixa os olhos no texto e começa a ler em voz alta. Parece que descobriu um tesouro. Tropeça em algumas palavras e tem um ritmo que lembra um passarinho. Não um passarinho cantando, mas um passarinho voando. Ela lê sorrindo e as palavras que eu escrevi na voz rouca e doce da minha filha fazem ainda mais sentido agora.

- Gostou do texto?

Pergunto enternecida.

“Não entendi nada, mamãe.”

Eu dou um beijo nela. E ela me encara com um amor tão grande e verdadeiro. Olha para o texto e, com uma sinceridade e espontaneidade que é exclusiva das crianças, eis que tem uma epifania.

“Mas eu amei muito, mamãe.”

E eu descobri que ela entendeu tudo.


? *FERNANDA VAN DER LAAN É PSICÓLOGA / @fernandissima

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