A notícia da visita só se espalhou no fim de semana, quando os vídeos em que aparece dançando num palco foram postados por funcionários nas redes sociais chinesas, como Weibo. Ele vestia camisa tradicional em estampa floral e tentava seguir os passos de Yangko, dança folclórica do norte do país.
Foi a primeira vez em que Huang esteve na China desde o início da pandemia, ele que antes visitava quase toda virada de ano. Chegou a programar uma viagem para meados do ano passado, quando se reuniria com Tencent e ByteDance (TikTok), entre outros clientes, mas ela teria caído na última hora por pressão política nos Estados Unidos.
A Nvidia é o principal alvo hoje no esforço americano para restringir o acesso chinês a chips avançados. Maior fornecedora de semicondutores para treinamento de aplicativos de inteligência artificial, a empresa, sediada na Califórnia, busca contornar desde 2022 as limitações de exportação à China determinadas pelo Departamento de Comércio.
O país responde por um quinto da receita da Nvidia, segundo o próprio Huang. "Se formos privados do mercado chinês, não temos contingência para isso, não existe outra China", afirmou ele, no ano passado. "Se não puderem comprar, eles mesmos vão fazer."
A secretária do Comércio, Gina Raimondo, reclama publicamente do empresário, nascido em Taiwan e naturalizado americano. Nas vezes em que ela impôs restrições, a Nvidia adaptou imediatamente seus produtos aos limites técnicos para seguir vendendo à China, levando aos questionamentos.
Há quase dois meses, a empresa acabou cedendo e voltando atrás. Foi quando Raimondo desabafou num evento que a Nvidia estava obrigando o governo americano a um jogo de "Whack-A-Mole", de ter que mudar as regras toda vez que Huang adotava um produto alternativo. Também que a empresa não produz nenhum chip "em nossas fronteiras".
O problema foi que em seguida, após o empresário negociar diretamente com Washington como seria o chip a ser oferecido, o novo modelo RTX 4090D, versão enfraquecida do RTX 4090, não interessou aos clientes chineses. Estes se voltaram para o chip de IA desenvolvido e fabricado, respectivamente, pelas chinesas Huawei e SMIC.
A viagem inesperada de Huang, agora, seria para reafirmar seu vínculo com o mercado chinês. Uma das imagens que circularam em mídia social mostra o empresário segurando uma caixa do próprio chip "castrado", como foi chamado pela imprensa de Pequim.
A repercussão da visita foi ampla, com o colunista Hu Xijin, do Global Times, de Pequim, dando as boas-vindas em seu perfil no Weibo, mas ironizando: "Quero dizer que, quanto mais rápido for o avanço da Huawei e da SMIC, mais dispostos virão os figurões internacionais de semicondutores, porque não querem perder o enorme mercado".
Acrescentou ser "um jogo complexo, em que, quanto mais se opuser ao 'desacoplamento', mais forte será a China".
Respondendo ao financeiro Yicai, de Xangai, a empresa disse que Huang não se reuniu com ninguém do governo, mas não ficou claro se teria encontrado clientes.
No sábado, ele já estava em Taipé, também para confraternizar com seus funcionários na ilha. Foi visto novamente num tradicional mercado noturno da cidade, desta vez de Ningxia. Mas na imprensa taiwanesa a expectativa era de que se reunisse durante a semana com executivos da TSMC, empresa que fabrica os chips desenvolvidos pela Nvidia.
AOMINUTO