Chamada no hospital de Clarinha, ela foi atropelada em junho de 2000 em uma avenida da capital capixaba. Teve lesão cerebral e nunca recobrou a consciência. No momento do acidente estava sem documentos.
"Ela chegou assim [em coma] e ficou do mesmo jeito até a morte", afirma o médico e coronel reformado Jorge Potratz, que cuidou da paciente na unidade onde ela estava internada, o Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo, durante 23 anos.
O médico conta que, de todo esse tempo, por 17 anos ele foi responsável pelos cuidados diretos, no hospital. Nos últimos seis anos, quando já estava na reserva, Potratz diz que orientou profissionais do estabelecimento no atendimento a Clarinha, que recebeu o apelido pela cor da pele.
"Era totalmente dependente. Na limpeza, alimentação, tudo", afirma o médico. Fora a condição cerebral, a paciente nunca teve qualquer tipo de doença no hospital. Na manhã desta quinta, porém, vomitou e teve uma broncoaspiração, que é a entrada de substâncias nas vias respiratórias. À noite, morreu.
O coronel, que é casado e tem dois filhos, conta que, com o tempo, Clarinha acabou se tornando um membro de sua família. "Comecei comprando sabonete, fralda. Depois, sempre que ia ao supermercado, levava alguma coisa para o quarto dela", lembra.
O coronel estima que a paciente estava com 47 ou 48 anos -ou 23 ou 24 anos no momento do atropelamento. "Nesse tempo apareceram algumas famílias levantando a possibilidade de Clarinha ser um ente desaparecido. Mas exames eram feitos e isso era descartado", conta Potratz.
A Polícia Militar divulgou nota dizendo que o corpo de Clarinha foi levado para o DML (Departamento Médico Legal).
"A Diretoria de Saúde da PMES está realizando os contatos com os médicos que a acompanhavam e com o Ministério Público para a adoção das medidas administrativas que permitam o seu sepultamento, por se tratar de pessoa sem qualquer tipo de identificação", afirma a corporação.
Fonte: noticiasaominuto