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Pausa para a leitura: 8 de março

Mais um ano e ressurge o dia, 8 de março, um clamor por igualdade, um anseio por espaço.

Mais um ano e ressurge o dia, 8 de março,

um clamor por igualdade, um anseio por espaço.

Dia das mulheres, parabéns eu nem repasso,

felicidades eu recebi, não ganhei nenhum abraço.


Nas telas, entre a força e a fragilidade, sou cansaço,

assimétrica em minhas linhas, tortuosa em cada traço,

obra prima retocada, fui desfeita e me refaço,

sou de carne, sou de osso, sou retrato de Picasso.


No espelho, sou cubista,

obra inacabada, universo egoísta.

Perdida em frivolidades, sou caridosa, sou consumista,

preciso reencontrar o meu eu protagonista.


Dez anos atrás, velha me senti;

dez quilos a menos, magra nunca me vi.

Cabelos, pele, em guerra comigo,

O corpo ofensivamente normal, meu íntimo inimigo.


Estatura em sapato alto, uma miragem,

cor da pele ajustada, viva a maquiagem,

nas pernas, a utopia em busca incessante,

nas formas, a desarmonia, a luta constante.

Na voz, o silêncio, ecoando a solidão,

nas curvas, a insensatez, o desespero por direção.

No sorriso, a esperança mais pura,

no cérebro, a nudez mais dura.

Nos olhos, o oceano, profunda rasura,

encarnadas em mulheres, somos erro e releitura.


Na roda da moda, giramos, perdidas,

camuflando as imperfeições, escondendo as feridas.

De pixels somos feitas, em telas, iludidas,

mulheres tão diversas, cada vez mais parecidas.

Intactas subversões, essências corrompidas,

somos Arte, resistência, somos beco sem saída.


Todas as nossas selfies são solidões admiradas,

Em imagens retocadas, com legendas replicadas.

Nas telas, refletidas, mulheres aprisionadas,

na vida real, escondidas, forças amordaçadas.


Não sou eu que falho, é a sociedade que erra,

na pressa de padronizar, institui a guerra.

Não é a aparência que nos condena,

mas a voz que silencia, essa sim, nos destrói e envenena.


Nos perfis, esperanças vãs de pertencer,

aos olhos alheios, nas profundezas do nosso ser.

Em redes e teias, delicadamente nos perdemos,

escondendo as cicatrizes, em caminhos que não escolhemos.


E aqui a minha revelação mais bela e mais certeira:

a mulher oprimida, em nossa era derradeira,

sou eu, és tu, somos todas – inimigas e parceiras,

lutando contra a maré, despedaçadas e inteiras.


? *FERNANDA VAN DER LAAN É PSICÓLOGA / @fernandissima

Fonte: TNH1

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