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Terra arrasada: família registra em vídeo viagem de 3 dias de SP ao RS

São Paulo — Para além da devastação em curso no Rio Grande do Sul, a tragédia provocada pelas chuvas na região tem causado transtornos inimagináveis para os gaúchos que estão fora do estado e tentam voltar para casa.

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São Paulo — Para além da devastação em curso no Rio Grande do Sul, a tragédia provocada pelas chuvas na região tem causado transtornos inimagináveis para os gaúchos que estão fora do estado e tentam voltar para casa.

Um deles é o médico Adib Husein, que veio a São Paulo para uma emergência de saúde familiar e precisou montar uma logística minuciosa para conseguir chegar à cidade de Rio Grande (RS) — mesmo bem-sucedida, a viagem que seria de três a quatro horas numa situação normal foi concluída em quase três dias.

Adib teve o seu voo de São Paulo para Porto Alegre cancelado no dia 5 de maio. Ele viajaria de volta para casa com a mãe, Mesedah, de 72 anos. Com o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, fechado por tempo indeterminado, e boa parte das estradas bloqueadas, o médico decidiu elaborar uma rota alternativa de retorno.

O roteiro incluiu um trecho de avião, até Florianópolis (SC), e depois percursos de carro e até guincho até Rio Grande.

A saga da família Husein

Trajeto da família Husein de SP ao RS

A viagem de quase 2 mil km dos Husein começou na manhã de sexta-feira (10/5) e só terminou no final da tarde de domingo (12/5). O voo de São Paulo a Florianópolis transcorreu sem problemas. A partir dali, no entanto, começava uma jornada repleta de obstáculos.

De carona com um irmão e uma sobrinha que foram buscá-los de carro na capital catarinense, a família enfrentou bloqueios, isolamento do sinal de celular, asfalto danificado e um cenário desolador. Se fosse feita fora do período de chuvas e com estradas em boas condições, a viagem teria durado uma vez e meia a menos, segundo os cálculos da família.

Em muitos momentos, os Husein precisaram acessar estradas secundárias — onde havia dezenas de pessoas tentando, a todo custo, sair e entrar na região (veja vídeo abaixo). Para Adib, o desastre, ao vivo, foi muito pior do que ele imaginava enfrentar quando decidiu deixar São Paulo:

“Tudo foi uma novidade. Foi uma surpresa. A gente fica vendo pela televisão e tem uma outra ideia do que está acontecendo”.

O Metrópoles selecionou trechos do trajeto da família Husein, que ilustra a devastação que assola o estado do Rio Grande do Sul. Confira a seguir:

Dias de ansiedade em São Paulo

A saga do retorno de Adib e sua mãe para o Rio Grande do Sul começou no dia 5 de maio. A família estava em São Paulo para visitar um tio doente e pretendia voltar para a cidade Rio Grande antes da última segunda-feira (6/5), quando Adib tinha compromissos no hospital que coordena .

Com o anúncio do fechamento do aeroporto de Porto Alegre, os dois precisaram se alocar na casa de parentes que moram em São Paulo. Da capital paulista, Adib fazia o máximo de atendimentos possíveis de forma virtual enquanto acompanhava, à distância, a água subir no Rio Grande do Sul. Nesse momento, ele começou a planejar o retorno para casa via Florianópolis com ajuda do irmão e da sobrinha, que saíram da cidade de Rio Grande em direção à capital catarinense na quinta-feira (9/5) de manhã para resgatar os familiares.

“Foram [dias] de muita preocupação e ansiedade. As coisas por lá não andam nada bem, tudo ficou complicado. A água invadiu áreas que nunca tinha chegado antes, hospitais tiveram que ser evacuados na sua parte térrea em Rio Grande. Situação muito difícil. […] A gente fica aqui nessa correria. tentando organizar um plano aqui para poder fazer esse trajeto de retorno”, escreveu Adib na quinta-feira (9/5).

Desvio por Santa Catarina

Mãe e filho embarcaram no Aeroporto de Congonhas às 10h25 de sexta-feira (10/5) sem saber se conseguiriam prosseguir viagem para o Rio Grande do Sul. Ao chegar em Florianópolis, eles se encontraram com o restante da família e saíram às 12h40 em direção a cidade de Lages, no interior do estado de Santa Catarina.

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O objetivo era dar a volta na região costeira, evitando a zona de alagamento. Florianópolis a Rio Grande são ligadas pela BR 101, um percurso que, sem as enchentes, tem 685 km e dura cerca de 12 horas para ser percorrido.

Com a volta feita por Adib, o trajeto pulou para 1.084 km, e durou quase 40h, terminando mais de dois dias depois, às 18h de domingo (12/4). Se forem consideradas as pausas para descanso, o trajeto foi feito integralmente em pouco mais de 53 horas.

Terra arrasada no interior

O cenário testemunhado por Adib no interior do estado gaúcho foi de terra arrasada. Ainda na sexta-feira à noite (10/5), eles cruzaram a divisa com Santa Catarina pela estrada de Vacaria, onde passaram a noite.

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Adib Housein e Mesedah no avião para Florianópolis Arquivo pessoal

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A chuva acompanhou a família durante todo o trajeto Arquivo pessoal

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Adib e o filho de 6 anos se reencontraram no domingo (12/5) Arquivo pessoal

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Adib Housein e Mesedah no aeroporto de Congonhas Arquivo pessoal

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Mesedah Husein tem problemas de locomoção, além de ser hipertensa Arquivo pessoal

foto colorida do O médico Adib Husein e a mãe, Mesedah, que enfrentaram três dias de viagem de SP ao RS - Metrópoles adib-retorno2

O médico Adib Husein e a mãe, Mesedah, que enfrentaram três dias de viagem de SP ao RS Arquivo Pessoal

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O médico Adib Husein no aeroporto de Florianópolis Arquivo Pessoal

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No sábado de manhã (11/5), seguiram pela estrada, passando por cidades como Passo Fundo e Soledade. Todo o trajeto foi feito sob chuva, com trechos alagados e casas destruídas.

À medida que se aproximavam da região sul do estado, ficava mais difícil prosseguir. Por volta de 15h30 de sábado (11/5), encontraram um bloqueio na estrada que levaria até Vera Cruz, e precisaram pegar um atalho de terra passando por Sinimbu.

“Foi aí que a gente viu toda a tragédia. Passamos por uma estrada de chão onde caiu uma ponte e uma parte da estrada estava totalmente destruída. É uma coisa muito ruim de ver, muito desesperador, muito ruim. Vimos o pessoal colocando coisas para fora de casa, tentando se salvar, pessoal do Exército ajudando.”

Pneus furados e sem comunicação

Depois de vencer mais da metade do caminho e passar de Encruzilhada do Sul, a família enfrentou um novo obstáculo ao cair a noite de sábado: com as estradas ruins e extremamente esburacadas, dois pneus do carro furaram e eles precisaram ficar parados em uma área sem sinal de telefone e totalmente sem iluminação.

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Adib diz que era comum encontrar objetos no trajeto Arquivo pessoal

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Trajeto até Rio Grande Arquivo pessoal

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Para escapar dos alagamentos, eles passaram pelo interior do estado Arquivo pessoal

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A estrada estava cheia de veículos particulares transportando objetos pessoais Arquivo pessoal

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Interior do estado esá parcialmente isolado com bloqueio do Rio Grande do Sul Arquivo pessoal

beirada de uma estrada com terras 8_abid

Estrada estava sem sinalização Arquivo pessoal

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A família viu vários trechos interditados Arquivo pessoal

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A chuva foi constante durante todo o trajeto Arquivo pessoal

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Adib conta que as estradas estavam cheias de pequenos alagamentos Arquivo pessoal

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Em vários momentos a família precisou usar estradas secundárias Arquivo pessoal

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Foram quase quatro horas de espera até que o reboque conseguisse chegar ao local, às 23h. A família ainda contou com a bondade do motorista, que abriu uma exceção e os resgatou junto com o carro, já àquela hora da noite e em meio à calamidade pública — afinal, conseguir um Uber ou táxi para transportá-los àquela altura seria impossível.

Às 3h de domingo, o reboque chegou a Pelotas. Lá, a família descansou por algumas horas e depois seguiu para Rio Grande, onde finalmente chegou às 18h.

Volta para casa

Ao chegar a Rio Grande, a família ainda enfrentou ruas bloqueadas na periferia da cidade, que também foi tomada pelas enchentes.

Foram quase três dias em trânsito desde São Paulo. Mas, apesar do desafio do trajeto e da insegurança quanto o avanço dos alagamentos, Adib conta estar aliviado por estar em casa e poder, finalmente, reencontrar o filho de 6 anos, que o esperava há uma semana:

“Todos os dias, ele [o filho] me perguntava quando eu iria chegar. Minha mãe também está bem mais tranquila. A gente fica apreensivo com a água, nesse sobe-não-sobe, mas estar na sua cidade, tomando conta das suas coisas, deixa a gente bem mais tranquilo”.

Fonte: Metropoles

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