Começou a temporada de convenções e sabatinas dos candidatos a prefeito de São Paulo. Entre promessas e ataques aos adversários, uma disputa local que ecoa questões nacionais. No cenário, Guilherme Boulos (PSOL) é o único postulante da esquerda, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é um bolsonarista envergonhado, Tabata Amaral (PSB) quer ser terceira via e Datena é um apresentador licenciado. Pablo Marçal ainda não merece comentários.
O uol realizou uma série de sabatinas com eles nas últimas semanas. Em sua entrevista, Datena deixou claro que caiu de paraquedas na disputa, o que não surpreende, já que é recente sua decisão – não tem esboço nem para um projeto de segurança. É o candidato antipolítica: "A minha desconfiança com política é total. Até que eu faça parte do meio político e passe a ter confiança dos políticos de uma forma geral, eu vou continuar na expectativa de ser ou não ser", afirmou.
Sobre o imbróglio com Tabata Amaral, fez-se de passageiro. Seria candidato a vice pelo PSB, disse que foi convencido por Tabata para ir para o PSDB "para ganhar um minuto de TV" e, depois, aceitou o convite dos tucanos para ser cabeça de chapa. Se o PSDB me fez o convite para ser prefeito, o problema é entre ela e o PSDB. Eu não sou traidor de ninguém", escapa, sem ser convincente. Candidatura tem tempo certo. A de Datena passou.
Candidato à reeleição tem a máquina pública a seu dispor, porém, é alvo principal de todos os adversários. Essa é a situação do prefeito Ricardo Nunes. Não conseguiu vender uma marca de sua gestão. Há um ano, era um desconhecido. Parece que não havia prefeito nesse período. Até que começaram as obras de recapeamento por toda a cidade e as denúncias de corrupção. Acabar com a fila da creche poderia ser uma bandeira, mas a Educação não parece seu tema predileto.
Tem o apoio de 11 partidos até aqui, incluindo o PL de Bolsonaro, o União Brasil, do vereador Milton Leite e o Republicanos do governador Tarcísio de Freitas. É o candidato da direita, mas não aceita ser chamado de bolsonarista. Ao uol disse ser "Ricardista", o que significa nada. Ao mesmo tempo, afirmou que não houve tentativa de golpe em 8 de janeiro. Será uma campanha de acenos à extrema-direita. Pelo tamanho da rejeição a Boulos, acredita que, se passar ao segundo turno, ficará mais quatro anos no cargo.
É simplista chamar Tabata Amaral de terceira via, já que o conceito merece melhor discussão. Mas se há candidatos de direita, outro de esquerda e ela dialoga com ambos lados, onde encaixá-la? Nasceu e conhece a periferia da cidade, estou em Harvard, Armínio Fraga e Jorge Paulo Lemann foram doadores de sua campanha. Defende os direitos mulheres, é contra o aborto e criticou o famigerado PL. É contra a saidinha. É progressista em certas pautas, conservadora em muitas. Não tem a menor relação com pautas históricas da esquerda. Direita com cheirinho progressista existe?
O episódio com Datena, que deixou de ser vice para ser seu concorrente, mostrou a falta de traquejo político na hora de construir aliados – e ela continua aguardando o PSDB, que realiza sua convenção no próximo dia 27. A educação é seu mote, mas precisa se comunicar melhor. É sua primeira eleição ao Executivo e não será a última.
Guilherme Boulos é candidato à prefeitura há quatro anos, desde que surpreendeu e chegou ao segundo turno na eleição municipal anterior. Equilibra-se na relação conflituosa entre seu partido e a parte do PT, que reluta não ser cabeça de chapa, nem consegue construir novas lideranças. É o segundo mais conhecido, o mais rejeitado e tem lugar assegurado no segundo turno, já que é o único candidato da esquerda.
Tem o apoio de Lula – que participou das convenção no último sábado -, conta com as lembranças que Marta Suplicy deixou na periferia e precisa convencer o eleitor moderado que o estigma de extremista é coisa do passado. Precisará de um comunicação afiada, que mostre propostas e rebata com rapidez os ataques dos adversários.
A última pesquisa do Datafolha aponta Nunes 24%, Boulos (PSOL), 23%.Datena 11%, Pablo Marçal (PRTB) 10%, Tabata 7%, e Marina Helena (Novo), com 5%. No segundo turno, Nunes teria 48% das intenções de voto, ante 38% de Boulos. Mesmo com o atual prefeito na dianteira, a única dúvida é saber quem será o candidato da direita no segundo turno.
Fonte: Metropoles