A quatro meses do fim do mandato, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu que seu sucessor não seja julgado "nem pela cor da camisa com a qual ele votou, nem pelas reuniões que ele fez, nem pelos jantares que ele fez, e sim pelas decisões técnicas que tomou".
"Quem vai me suceder aqui tenho certeza que vai ter proximidade com o governo atual, que vai participar de eventos do governo atual. E espero que ele não seja julgado por isso", disse ele em entrevista à colunista Míriam Leitão, de O Globo, publicada nesta terça-feira (20/8).
Sobre ter ido votar nas eleições de 2022 com uma camisa da Seleção Brasileira, associada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele disse que teria feito diferente, mas salientou que o voto é privado.
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"Hoje eu teria feito diferente. O voto é um ato privado. Não acho que seria surpresa , as pessoas não achariam que eu não ia votar desta forma. Teria feito diferente, mas acho que, no fim das contas, a autonomia e a independência se fazem pelo que eu fiz ao longo do tempo no Banco Central. Fizemos a maior alta de juros em período eleitoral dos países emergentes".
Campos Neto costuma ser criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por sua atuação à frente do BC. O petista já acusou o chefe da autoridade monetária de ter alinhamento ideológico com Bolsonaro.
Com a aprovação da lei de autonomia do Banco Central, que determinou mandatos não coincidentes com o do presidente da República, este é o primeiro governo que convive com um banqueiro central indicado pelo governo anterior.
Lula poderá indicar, neste ano, o próximo presidente, que ficará na cadeira por quatro anos. O principal nome cotado é o do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, que foi braço-direito do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no primeiro semestre de 2023.
Campos Neto despista sobre juros
Campos Neto ainda despistou sobre o que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará sobre a taxa básica de juros, a Selic, na próxima reunião, marcada para os dias 17 e 18 de setembro. Em julho, o colegiado do banco optou por manter a Selic a 10,50% ano, enquanto o governo federal deseja a queda da taxa.
Parte do mercado espera um aumento na taxa já na próxima reunião do Copom. Há expectativa de que a Selic encerre 2024 em 10% ao ano.
"A gente sempre disse que se fosse necessário subir os juros, subiria, mas não lembro de ter falado de alta de juros. O mercado já vinha colocando um pouco de expectativa de alta na curva. Mas não depende só do mercado, precisa olhar o cenário daqui para frente", afirmou.
Campos Neto frisou que a economia está forte e que a inflação está dentro da meta. "O que posso dizer, e de novo, é que há opiniões divergentes no grupo sobre o balanço de riscos, se são simétricos ou não. A gente vai decidir no próximo Copom", completou.
Fonte: Metropoles