Passageiras dos trens da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) têm observado com frequência o desrespeito a uma lei distrital: a que determina a reserva do primeiro carro do modal a mulheres e pessoas com deficiência (PCDs). Publicada em 2012, a norma estabelece, ainda, que a medida vale para os horários de pico da manhã e da tarde – períodos em que o transporte fica mais cheio.
Contudo, devido a problemas na sinalização nas estações, à falta de fiscalização e ao atrevimento de passageiros que fingem não saber da regra, é comum encontrar homens – nesses casos, sem deficiência – presentes no carro exclusivo.
11 imagensA autônoma Vanessa Ferreira, 42, usa o metrô diariamente e sempre opta pelo carro feminino pela segurança e para evitar assédios. Porém, a mulher já flagrou certas placas – que sinalizam a exclusividade do vagão – quebradas e rasuradas, ou a falta do artifício em certas estações. “Você pode andar em todas as estações, o que você vai ver são placas quebradas e desbotadas. Além disso, não tem guardas na plataforma.”
Vanessa chegou a gravar uma situação em que os vigilantes estavam todos nas proximidades das catracas da estação, porém, quando chegou na plataforma, não haviam funcionários para fiscalizar o movimento. Ainda no vídeo, a mulher conversou com um homem que estava na área de entrada para o vagão exclusivo. Ela pergunta se ele sabe que o carro é só para mulheres e o homem diz que sim mas não se mexe. Após instantes, ele vai embora, mas a autônoma acredita que ele se afastou pelo fato de estar sendo gravado.
“Quando eu acho que o homem vai ser educado, eu abordo ele. A maioria fala que não sabia e entrou sem querer, diz que não vê a placa”, conta a mulher. Já a estudante Leticia Ramos de Souza, 18, acredita que falta algo para sinalizar dentro do vagão também. “Eu acho que falta ter mais sinalizações. Tem a placa mas geralmente o povo não liga. Muitos homens entram e não é legal. É muito sem noção.”
A estudante Marcele Cardoso, 20, chegou a presenciar uma situação em que um homem, que assumiu não ser PcD, fez o percurso inteiro no vagão exclusivo e ainda se negou a levantar para dar lugar a uma mulher idosa. “Certa vez entrei no vagão na estação Praça do Relógio e havia um homem no vagão. Perguntei se ele era PCD e ele disse que não. Ele também recusou dar o assento a uma senhora que estava em pé. Foi assim durante todo o meu trajeto até a Galeria, ele sentado e a senhora em pé. Nenhum guarda entrou para checar. No dia eu procurei um telefone lá dentro mas não encontrei.”
“Eu uso o primeiro vagão para me sentir mais segura. Não é tão sinalizado, não tanto quanto deveria. Eu já vi muitos rapazes no vagão. Muitos realmente não sabem e ficam surpresos quando são chamados atenção. Não é bem fiscalizado”, conta.
Lúcia Viana, 47, usa o metrô três vezes por semana e sempre tenta utilizar o primeiro vagão. “Mas depende do percurso, se eu desço na estação Asa Sul, o primeiro vagão fica muito longe das escadas de saída para mim e por isso tenho que entrar em outro senão perco o ônibus. Se tiver homem, eu sempre peço para sair. As pessoas entram no vagão errado por desinformação. Alguns entram de safadeza mas normalmente é por desinformação. É falta de prestar atenção, entra na pressa, na correria.”
A doméstica Carla Rodrigues, 31, conta que tem dificuldade em usar o vagão por conta da lotação em horários de pico. “Sempre tento usar o vagão das mulheres mas às vezes está cheio demais e não consigo entrar. Semana passada tive que avisar um homem de que ele não podia estar no vagão. Mas às vezes a gente não sente segurança em fazer esse alerta e deixamos de falar.”
Estratégias de fiscalização
Por meio de nota, a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) informou que o monitoramento frequente da utilização do carro exclusivo faz parte das ações cotidianas das equipes de segurança.
“O Metrô-DF divulga continuamente, por meio de emissão de mensagens de audição pública, utilização de pedestais em estações, prestação de informações nas tevês presentes nas linhas de bloqueios das estações e site oficial (Carta de Serviço) sobre o correto uso do carro exclusivo. Lembramos que não há uma restrição absoluta quanto ao uso do carro exclusivo por homens, desde que ele seja uma pessoa com deficiência”, enfatizou a empresa.
Além disso, a Metrô-DF comunicou que o Corpo de Segurança Operacional faz fiscalizações nas plataformas quanto ao correto uso do carro exclusivo, assim como nos acionamentos por parte dos usuários. “Cumpre apontar que a população também é parte importante no processo de obediência à legislação. Não há efetivo suficiente para acompanhar todos os trens simultaneamente, pois o desrespeito ocorre de forma aleatória”, completou a empresa.
“A companhia pede ao usuário(a) que informe o número do trem, horário e localização de referência por meio de nosso canal de WhatsApp (61 992-651-178), para que seja possível uma ação direcionada da equipe de segurança com a maior brevidade possível. Todas as reclamações são devidamente apuradas e respondidas. Os dados coletados são utilizados para adequação das rotinas e estratégias de fiscalização”, finalizou o texto.
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