O ex-soldado da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) Djair Oliveira de Araújo, investigado pela Polícia Civil carioca por aplicar um golpe milionário contra um grupo de pelo menos 20 pessoas, não economizava quando o assunto era circular pelos bairros nobres cariocas pilotando carros superesportivos. Um dos veículos comprados pelo trade era um Porsche 911 Turbo S, o mais caro da categoria e que chega a custar R$ 2,4 milhões.
A coluna apurou que o ex-militar, que atraia investidores garantindo ser um “gênio” do mercado financeiro, financiou o superesportivo em 10 prestações de R$ 230 mil. No entanto, pagou apenas cinco parcelas do carro alemão e acabou vendendo o veículo para a mesma loja onde havia feito negócio.
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Djair acabou vendendo o carro por R$ 1,6 milhão, mas ainda precisou pagar R$ 210 mil para consertar avarias. Com a dedução das prestações atrasadas, o ex-policial recebeu apenas R$ 240 mil. A coluna teve acesso ao extrato bancário da empresa do ex-militar, no qual ele efetua o pagamento das prestações da Porsche.
Veja imagens do ex-policial ostentando com a Porsche 911 Carrera Tubo S:
Falso sucesso
Djair pediu baixa da PMERJ ainda em 2021, mas anos antes já demonstrava nas redes sociais um estilo de vida incompatível com a função de soldado.
Vídeos e fotos de viagens internacionais, carrões superesportivos e jantares em restaurantes badalados eram publicados em suas redes sociais e chamavam a atenção de colegas de farda.
A ostentação era o chamariz para captar militares que queriam investir e supostamente ganhar altos rendimentos. O então militar havia montado um luxuoso escritório para as operações financeiras em um prédio no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio.
Um grande número de policiais militares e profissionais liberais de outras áreas começou a fazer parte da carteira de clientes de Djair, que garantia ter lucro entre R$ 10 mil e R$ 20 mil todos os dias operando no mercado financeiro.
Com o sucesso, o ex-militar se aproximou de policiais do Bope e passou a usar o famoso emblema da “faca na caveira” para estampar vídeos motivacionais publicados nas redes socais. A ideia, segundo vítimas ouvidas pela coluna, era criar uma atmosfera de credibilidade e segurança.
Rastro de vítimas
O ex-militar se apresentava como CEO da empresa Dektos, que buscava investidores para injetarem capital e assim aumentar as operações da empresa.
Pelo menos 20 pessoas que perderam grandes quantias se reuniram em um grupo de WhatsApp para trocar informações e tentar reaver o dinheiro perdido.
A coluna conversou com duas vítimas que perderam grandes quantias. Um ex-policial militar, que serviu ao lado de Djair na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro dos Macacos e depois na Babilônia, foi atraído pelas promessas de altos ganhos e depositou R$ 330 mil nas contas do colega de farda.
A vítima, que preferiu não ter o nome divulgado, afirmou que Djair prometia 5% de juros sobre os valores aportados e que não haveria risco nas operações financeiras.
“Parte das pessoas que botaram dinheiro na empresa havia trabalhado com ele. Como Djair tinha um amigo no Bope, ele conseguiu ter acesso a outros policiais de lá e chegou a levar três ou quatro para trabalharem com investimento. Um desses caveiras chegou a fazer a segurança do Djair”, contou.
Perda de R$ 330 mil
O ex-policial que se tornou cliente de Djair explicou que o suposto trader também criou a “Trade in flow”, um projeto de mesa proprietária para operar uma série de produtos no mercado nacional e internacional.
“Meus R$ 330 mil ficaram na empresa por quatro anos e eu fazia poucos saques, uns cinco em todo o período. Eu deixava o montante rendendo juros sobre juros. No entanto, um um belo dia, o dinheiro desapareceu”, afirmou.
Ao todo, caso o ex-soldado da PM fluminense tivesse que pagar os dividendos de rentabilidade, o valor chegaria próximo de R$ 2 milhões, segundo a vítima.
“Tentei todos os acordos judiciais possíveis, pedindo apenas que ele devolvesse o valor que havia sido aportado. Ele nunca deu retorno. Após as cobranças constantes, ele me bloqueou no WhatsApp e nas redes sociais”, disse.
Mais golpes
Um engenheiro civil que perdeu R$ 595 mil após investir todo o valor na empresa do ex-PM também acreditou que o negócio seria sólido. Ambos se conheceram em um grupo de WhatsApp envolvendo preparação de veículos.
“Djair sempre falava muito que entendia de mercado financeiro, dólar futuro, e que conseguia fazer até R$ 20 mil por dia”, contou.
O engenheiro acabou fazendo uma série de transferências acreditando no recebimento de 5% de juros mensais. Foram depositados R$ 50 mil, depois mais R$ 100 mil. “Eu não parei por aí e aportei uma grande quantia em 2022, totalizando R$ 595 mil”, detalhou.
A vítima ressaltou que passou cinco meses fazendo saques mensais de R$ 30 mil, mas que os valores repassados foram minguando, até desaparecer.
Quando não havia mais valores a serem sacados, o engenheiro tentou retirar o montante que havia sido investido, mas já era tarde. “O Djair convence pela lábia, pela estrutura que havia no escritório e pelos policiais do Bope que circulavam pelo local. Mas ele vivia uma vida de ilusão e enganava quem decidia investir na operadora dele. Eu também fui bloqueado por ele em todas as redes sociais e não consigo receber o meu dinheiro”, afirmou.
Outro lado
Procurado pela coluna para comentar as acusações, o CEO da Dektos afirmou que existe um procedimento investigatório em andamento e que está “muito tranquilo a respeito das acusações”. Djair ressaltou que sua empesa não quebrou e segue operando normalmente. “Minha empresa continua em atividade, tivemos uma fase difícil no início do ano, mas essa acusação de golpe é infundada”, garantiu.
O ex-militar se defendeu afirmando que duas pessoas que o acusam de golpe eram funcionárias dele e receberam valores equivalentes ou superiores ao montante que aportaram na empresa. “Cabe ressaltar que eles trabalham em média dois anos na empresa comigo, inclusive no setor financeiro e só investiram na empresa por trabalharem nela”, disse.
Djair ressaltou que possui comprovantes de transferências que superam os valores aportados pelos clientes: “Nunca fiz captação de recursos de forma indiscriminada. Minha empresa trabalha com a venda de sistemas e infoprodutos e toda receita obtida vem disso”, defendeu.
Por fim, o trader destacou que a alegação de que deu golpe em milhões não é real: ” Todos que investiram na empresa eram funcionários (95%) e os demais, parentes meus ou amigos muito próximos. A empresa segue em atividade e sigo pagando a outras pessoas normalmente. Essas pessoas que me acusam, querem receber valores incompatíveis com o que é devido e eu estou aguardando a decisão da justiça. Porém a maioria não entra no âmbito civil para que seja discutido pois o real motivo é que estão tentando usar o Judiciário para me coagir”, finalizou.
Fonte: Metropoles